quarta-feira, 8 de abril de 2009

Dança para todos

















Criador de técnica de dança que inclui portadores e não-portadores de deficiências físicas e mentais, o coreógrafo americano Alito Alessi fala sobre arte e inclusão social

MARIANA BERGEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
(matéria publicada em 24 de maio de 2007, no cardeno Equilíbrio)

Para mostrar que as limitações de pessoas com necessidades especiais podem ser muito menos restritivas do que se imagina e integrá-las à sociedade de uma forma original, o bailarino e coreógrafo norte-americano Alito Alessi, 53, desenvolveu, em 1987, uma técnica que hoje já está difundida pelo mundo: o Danceability.
Trata-se de um método de dança inclusivo para portadores e não-portadores de deficiências que pesquisam movimentos juntos.
No Brasil para o Projeto Danceability 2007, com palestras, workshops e performances que ocorrem em vários locais de São Paulo, o coreógrafo norte-americano também organiza um espetáculo com artistas brasileiros, que será apresentado em junho na mostra "Sob um Novo Olhar", no Sesc Santana. Leia trechos da entrevista concedida à Folha.

FOLHA - Como surgiu a idéia de criar o Danceability?
ALITO ALESSI - Apesar de os valores da dança contemporânea, que nasceu nos anos 1970 e 1980, afirmarem que ela é para todos, não era isso que eu via. Pensei em como seria fazer a dança acessível para todo mundo -não isolando as pessoas em seus grupos- e que ela fosse um reflexo da sociedade, onde todos fossem capazes de trabalhar juntos. Estou interessado em todas as pessoas, em todos os movimentos e na linguagem que cada corpo e cada pessoa tem para oferecer no processo da comunicação.

FOLHA - Por que alguém escolheria dançar a partir dessa técnica?
ALESSI - Existem muitos tipos de dança, mas a maioria delas acaba isolando pelo menos 20% da nossa sociedade. Nesse método, o que interessa é que o seu mundo interno possa vir à tona e ser expresso pelo seu próprio corpo como ele é. É uma expressão bem diferente do que se alguém diz o que você tem de fazer com o seu corpo. Além disso, se você se movimentar com pessoas que se movem como você o tempo inteiro, acaba mantendo sempre os seus próprios padrões, coisas que são mais familiares e confortáveis para você. Aprender a se mover de um jeito diferente facilita mudar também o modo de pensar e de ver as coisas.

FOLHA - Pode-se afirmar que, para alguém que tem alguma deficiência física ou mental, a técnica mostra que os limites dessa pessoa vão além do que ela imagina e que, para uma pessoa sem deficiências, existem limites que não precisam ser ultrapassados?
ALESSI - Sim. O trabalho é realmente para ensinar cada um, e cada pessoa tem alguma coisa diferente para aprender. Todos aprendem com todos, e as pessoas que não têm deficiência têm tanto a aprender quanto as pessoas com deficiência.

FOLHA - Por que é importante que o grupo tenha pessoas tão diferentes?
ALESSI - É um reflexo mais honesto do que são o mundo e a natureza, que é assim, diversa. A maioria do preconceito que cria sofrimento e separação vem de as pessoas não terem experiência com algo. Por exemplo, você olha para alguém que não tem pernas e pensa: esse cara não tem pernas, ele não pode dançar. De repente vê ele dançando e a sua mente é obrigada a se transformar. Quanto mais diversas as experiências, maiores as possibilidades de escolha.

FOLHA - Os pilares do Danceability são sensação, relação, tempo e composição. Qual a importância de cada um deles?
ALESSI - A sensação mantém a pessoa em relação com o seu corpo e com o seu movimento nesse momento e ensina a linguagem do próprio corpo. Relação é o que se vai fazer com essa linguagem ao se relacionar com outras pessoas. Tempo tem a ver com aprender a controlar o tempo, mais do que deixar o tempo controlar você, pois pessoas diferentes fazem coisas em tempos diferentes. Quando mantemos sempre o mesmo tempo, perdemos muitas coisas. E composição é a acumulação disso tudo: por meio dessas três coisas se chega a uma consciência de composição. Então há o indivíduo, uma relação com outra pessoa, atenção à sua comunidade e como ela está afetando o ambiente. A sensação é consigo próprio, relação é com as outras pessoas, o tempo envolve a comunidade, e seu efeito como comunidade no meio ambiente é a composição.

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