domingo, 30 de janeiro de 2011

Especial de Idiomas

Falar bem é principal exigência

Empresas valorizam quem está preparado para discutir projetos e conversar com estrangeiros

MARIANA BERGEL (publicada no caderno especial de Idiomas, na Folha de S.Paulo, em 28 de janeiro de 2011)
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Falar bem em outro idioma é a habilidade que as companhias mais valorizam. "O material didático para empresas enfatiza conversação", diz Marcelo Teixeira, 40, diretor de cursos e de projetos da Manhattan Village.
"A fala se sobressai, pois a maior parte da comunicação com os clientes é falada", afirma Maria Fernanda Ortega, 33, diretora de recursos humanos da Fnac Brasil.
"Atendo clientes em inglês e francês", concorda Nuria Aluz, 21, coordenadora do departamento de vendas da Fnac da avenida Paulista.
Ela acha que falar esses idiomas não foi determinante para ser contratada, e sim para sua ascensão -ela atuou como temporária e consultora de vendas.
Na Bosch, saber dialogar em alemão e inglês -idiomas oficiais da matriz- é importante, especialmente nas áreas técnicas. "A maioria dos centros de engenharia e desenvolvimento de produtos está na Alemanha", diz Fábio Amaral, gerente de recursos humanos corporativos da empresa.
Ele acrescenta que a principal habilidade requerida dos profissionais é a comunicação verbal em outra língua -depois vem a escrita.
Na IBM de Hortolândia (a 105 km de SP), funcionários falam ou escrevem em até oito idiomas para se comunicar com clientes, diz Edson Pereira, executivo de parcerias educacionais da empresa.

BEM-VISTO
O inglês, idioma oficial da companhia, é testado em todos os candidatos a uma vaga. "Muitas vezes admitimos pessoas que não são de TI [tecnologia da informação] porque é mais fácil capacitar um profissional para cargos de entrada em TI do que em idiomas", afirma.
Foi assim que o executivo Carlos Carnelof, 29, entrou na IBM, há sete anos. "Fazia faculdade de fisioterapia e precisava trabalhar. Como gostava de TI e falava bem inglês, fui admitido", lembra.
Ele estima gastar cerca de 80% do tempo no trabalho falando inglês. "Quanto melhor é a comunicação com clientes, com domínio de palavras técnicas e gírias, melhor é o relacionamento com eles. Você é visto como parceiro, e não como alguém que só cumpre função."


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PARA FALAR MELHOR

  Repita em voz alta textos ou diálogos para desenvolver a expressão oral e treinar a pronúncia das palavras
  Escute a língua (em músicas, filmes e noticiários) para se familiarizar com sua sonoridade
  Participe de atividades que estimulem a fala, especialmente com nativos da língua, colegas de classe e professores
  Preste atenção nos sons e na acentuação diferente do idioma estudado

Prêmio Empreendedor Social 2010

Conexões morro-asfalto

Líder comunitário dá voz a moradores de favelas cariocas por meio de uma das maiores ONGs do país

MARIANA BERGEL (publicada na Folha de S.Paulo em 25 de novembro de 2010)
ENVIADA ESPECIAL AO RIO


Nos anos 80, depois de um mês juntando dinheiro, um menino de 12 anos vai comer seu primeiro hambúrguer no McDonald's com um amigo.
No retorno para casa, brincam de chutar portas. Um alarme dispara e surgem policiais por todos os lados. Assustado com o som dos tiros, o menino para de correr.
O amigo foge, mas, vendo o outro apanhar da polícia, volta. "Ele disse que fez isso porque éramos amigos. Eu disse que não teria voltado, e ele falou que essa era a nossa diferença." Desde então, o menino, agora crescido, mudou de atitude. "Até hoje eu volto por todo mundo."
É difícil dissociar José Junior, 42, do AfroReggae, projeto cultural, artístico e social que teve início há 17 anos. Nascido em Ramos, subúrbio do Rio, Junior mudou para a Lapa aos dez anos, com a mãe. "Meu pai bebia muito."
Cursou apenas o ensino fundamental e cresceu em um ambiente boêmio, numa Lapa violenta, cenário de crimes e prostituição.
Ele diz nunca ter roubado, participado do tráfico ou usado drogas. "Lembrava o que minha mãe passou com meu pai e não quis entrar nessa vida."
Ainda jovem, foi taxista e organizador de festas de funk e reggae. "Percebemos que faltava um veículo de comunicação que falasse da cultura afro-brasileira e criamos o jornal 'AfroReggae'."
Depois da chacina de Vigário Geral, em 1993, o grupo passou a frequentar a favela. À época maior ponto do narcotráfico no Brasil, o local era o epicentro do alto escalão do Comando Vermelho. Nesse momento, o projeto ganhou outra dimensão.
"O jornal levava informação, mas as pessoas queriam formação. O grupo virou uma luz no fim do túnel para pessoas sem esperança."
Hoje, o empreendedor social é respeitado por traficantes, policiais, presidiários, empresários e artistas.
Espiritualizado, ele procura inspiração na figura de Shiva, deus indiano que busca forças na destruição para construir o novo e que representa o poder da transformação. Também cultua Ogum, Thor, Tutankamon, Jesus.
Rude, antipático, autoritário são algumas alcunhas que coleciona. Líder e exemplo para milhares de atendidos pelo projeto são outras.
"Se você procura o cara bonzinho, que fala bonitinho e é cheirosinho, não sou eu. Meto o pé na lama, não tenho medo de colocar a vida em risco para salvar outra."


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Quem é ele?

José Pereira de Oliveira Junior, 42, líder comunitário, carioca.

Organização: Grupo Cultural AfroReggae
Ano de fundação:
1993
www.afroreggae.org.br

O AfroReggae trabalha em prol da transformação social utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de conexões que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a cidadania.
Desenvolveu empiricamente método eficaz para mediação de conflitos e desenvolvimento econômico e cultural em locais marcados por exclusão, narcotráfico e violência, envolvendo governo, grandes empresas e, sobretudo, as comunidades carentes como protagonis-tas de sua realidade. Beneficia cerca de 1.300 jovens em cinco núcleos culturais no Rio de Janeiro e em Nova Iguaçu e preencheu 1.150 posições no mercado de trabalho por meio do projeto Empregabilidade, além de ter desdobramentos em Belo Horizonte, no Reino Unido e na Índia.