domingo, 31 de maio de 2009
Mulher Elétrica
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Manhã qualquer
Amanheceu e tudo escureceu.
Já não vejo o sol,
Tampouco vejo a lua
Que há pouco brilhava no céu estrelado.
Mantenho-me à espreita,
Sem provar o gosto da tua alma,
Ou dar-te meu beijo de pecado,
Que se esquiva amedrontado.
Sonhei com teu gosto sublime e doce
E com o cheiro de tua nuca,
Mas o medo impede a culpa que me consome
E meus sentidos já não são só meus.
sábado, 23 de maio de 2009
Assalto na Praça Roosevelt
Tava felizona, tinha ido num show com a Adri no Galharufa, na Praça Roosevelt, e queria mostrar o outro lado da praça pra ela. A rua que contorna a praça estava bombando de gente; lá tem se tornado um pólo cultural que reúne um monte de artistas e nego metido a intelectualóide. E muito nóia também, já que a praça está abandonada.
Fizemos um caminho passando pela frente da igreja e do batalhão da polícia militar. Adivinha onde foi o assalto? Bem na frente do batalhão. O cara chegou junto nervosão. Chutaria que está em começo de carreira. Descrição física? Mulato, gordinho, camiseta branca, jaqueta jeans, calça escura e mochila nas costas. Colou do meu lado: - Passa o celular. Fiquei atordoada, sem saber o que fazer. Com quatro celulares na bolsa: um que era o que eu usava para a Black Rio e ainda não tinha passado todos os contatos para o Nextel (que é o que ele levou e que eu tinha há menos de um mês), o meu antigo da Vivo com zilhões de contatos importantes profissional e pessoalmente (mas que não tinha mais função desde ontem, quando mudei para a Claro) e o celular novo, da operadora nova que eu contratei.
Enfiei a mão na bolsa, meio sem saber o que fazer: qual dos celulares era menos importante? Eu tinha tempo para avaliar isso naquele momento? O cara não mostrou arma, mas sei lá. Minha vida, minha integridade física valem bem mais do que qualquer bem material que eu possa ter. Mas que dá raiva, dá. Ele pediu pra Adri dar o dela também, mas ela estava mais distante dele e disse que não tinha. Ele saiu vazado, quase tão (ou mais) assustado do que nós duas.
Entrei correndo no batalhão da polícia, gritando por socorro. Em poucos minutos, saímos eu, adri e dois policiais numa viatura para caçar o ladrão. Rodamos cerca de uma hora e nada. Deve ter subido no primeiro ônibus que viu. Mas a situação toda me leva a pensar uma série de coisas. Como é que pode rolar roubo atrás de roubo na frente de um batalhão da polícia, em um lugar que tem uma vida cultural super ativa? Soube de alguns outros assaltos na mesma noite. Eu fico com raiva daquele mané que me assaltou que, não me pareceu nem de longe que estava na nóia de droga ou que tivesse alguma prática em assaltos. O cerco fechou e o mano precisa pagar as contas ou, pelo menos alimentar uma família? É isso? E a polícia ia pegar o nego e fazer o que? Encher o cara de porrada? Que caralho de país! Devo ficar com raiva do batedor de carteira que, por sorte não me machucou e levou mais nada meu, ou devo ficar revoltada com a situação caótica de um país que exclui mais e mais as pessoas, deixando uma massa no limbo e privilegiando alguns poucos que tem poder e grana?
Confesso que queria muito reaver meu telefone, ainda mais porque tinha o número de um monte de gente que eu tomava o maior cuidado pra nao vazar: desde meus amigos, minha mãe, meu pai, celebridades do tipo Elza Soares, Chico César, Seu Jorge, Mano Brown, até o secretário executivo do Ministério da Cultura. Vou deitar com a sensação de fazer parte de um sistema que eu odeio com todas as forças. E contra o qual eu luto com as armas que tenho: honestidade, vontade de mudança, fé, união de forças do bem, minha capacidade intelectual, o quarto poder... acho que são poucas minhas ferramentas. Vou dormir (ou pelo menos tentar) com uma tremenda sensação de impotência.
terça-feira, 19 de maio de 2009
Um novo mundo no meio do caos

Em janeiro de 2004, depois de passar oito meses em Londres e um mês na Tailândia, decidi ir para a Índia. Queria acompanhar o Fórum Social Mundial, em Mumbai, e desbravar aquele lugar tão intrigante. A verdade é que ele se mostrou bem mais complexo depois de minha passagem por lá. Foram três meses com a mochila nas costas, sozinha, rodando do sudoeste para o noroeste do país. Os fatos vividos por mim foram diversos. Foi uma viagem difícil, mas que me ensinou a viver bem sozinha. O mundo externo a mim era tão exótico, que me reprimia em vários momentos. A cultura é diferente e os hábitos e costumes são totalmente peculiares. Amei a viagem, mas não acho que é para qualquer um encarar um país como aquele, especialmente sozinho, sendo mulher e branca-azêda como eu. Fui raçuda, confesso. Mas tudo o que vivi e cresci na viagem, além de ter tido a honra de estar próxima do Dalai Lama e do Gilberto Gil nessa mesma trip, fizeram dela um momento inesquecível. Segue uma matéria que foi encomendada como editorial da Carta Capital (que descartou o texto com extremo descaso, pois ele foi substituído por algum babado novo do Daniel Dantas e eles acharam o tema prioritário). O texto foi publicado na revista Jungle Drums (www.jungledrumsonline.com), uma publicação brasileira bilíngue bem bacana feita em Londres. Ela fala mais especificamente sobre o Fórum. Mais adiante reproduzo outras do mesmo destino.
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Um novo mundo no meio do caos
Direto de Mumbai, na Índia, a repórter da JungleDrums Mariana Bergel descreve a atmosfera e o que aconteceu no Fórum Social Mundial
Texto e fotos de Mariana Bergel (matéria publicada na revista Jungle Drums, em fevereiro de 2004)

Visitar a Índia com certeza vai muito além de apenas uma aventura em um país exótico. Ao sair do aeroporto internacional, em Mumbai, é impossível evitar o contato direto com uma realidade dura e desumana. O cenário é caótico: barracos e mais barracos, pedintes, um trânsito completamente maluco e uma grossa névoa de poluição. À noite, impressiona ver o número de pessoas dormindo nas ruas. Com 18 milhões de habitantes, a cidade consegue reunir todos os problemas urbanos do mundo. Para os participantes do IV Fórum Social Mundial, que aconteceu em Mumbai entre 16 e 21 de janeiro, o slogan "um outro mundo é possível" ganhou a urgência de se buscar alternativas que possam transformá-lo em realidade.
A sede do Fórum (uma fábrica desativada) transformou-se em um grande espetáculo de sons, cores e cheiros e reuniu mais de 100 mil pessoas de 141 países, das quais pelo menos 500 eram brasileiros. Grupos de vários lugares do mundo, principalmente da Ásia, circulavam para cima e para baixo tocando tambores e colorindo o ambiente com roupas tradicionais, como turbantes, saris e trajes tibetanos. Quando os grupos se encontravam nas encruzilhadas, era um festival de danças e gritos de ordem. Essa era a voz dos excluídos para mostrar sua indignação e para quem o aperto de mão foi uma das linguagens mais praticadas.
O significado desse gesto foi ainda maior para os chamados intocáveis, também conhecidos como Dalits, grupo mais oprimido no sistema de castas que hierarquiza a sociedade na Índia. Entre a população do país, que já passa de 1,2 bilhão, eles representam quase 200 milhões. O Fórum mostrou a essas pessoas a possibilidade de conquistar dignidade, exemplificada nas palavras de uma jovem Dalit de 16 anos: "A gente veio para lutar pelos nossos direitos; saímos daqui com a sensação de que agora a gente pode fazer qualquer coisa". Neste Fórum os excluídos deixaram de ser um assunto debatido pela elite intelectual-política e compareceram em massa, vindos de diferentes regiões do continente.
Diferente do que aconteceu nas outras edições, em Porto Alegre, a estrutura do Fórum não contou com nenhum apoio governamental ou partidário. Através de doações de entidades, tendas e salas foram construídas com madeiras, cordas e panos, dando um ar de improviso que denunciava a falta de recursos.
A dignidade e os direitos humanos, a questão da Palestina, a crise da OMC, a privatização de recursos vitais como a água, a proposta de reformar a ONU e o FMI foram os principais temas entre os mais de mil debates e palestras.
É fato que a participação popular esteve muito mais consistente e ativa. Claro que isso não garante o fortalecimento da sociedade civil como um agente que possa realmente trazer mudanças. Mas há de se acreditar, como os Dalits, os tibetanos e todos os outros envolvidos, que, desde que existam ações práticas para dar continuidade ao desenvolvimento das propostas, as mudanças são possíveis.
Para nao dizer que nao falei das flores

A questão ambiental esteve longe de ser um dos temas mais abordados no IV Fórum Social Mundial. A privatização de recursos naturais (especialmente a água) por empresas multinacionais até foi bastante discutida, mas a questão do aquecimento global e outros temas fundamentais relacionados ao meio ambiente não tiveram destaque merecido na pauta do Fórum.
Para Lisângela Araújo, diretora nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), informação é essencial na luta pela preservação do meio ambiente. "Os movimentos ambientalistas estão ganhando força, mas falta informar melhor a população sobre coisas básicas", diz.
Francisco Whitaker, do Comitê de Organização do Fórum, concorda que faltou abordar mais a questão ambiental no evento, mas disse que os temas foram votados. "Não se pode falar em desenvolvimento social sem levar em conta o impacto ambiental", ressaltou.
Uma das soluções que seguem essa idéia e tiveram destaque no Fórum é a criação de eco-vilas, uma das mais efetivas alternativas para o desenvolvimento sustentável. Essas comunidades auto-sustentáveis, que reúnem de 50 à 2 mil pessoas, começaram a entrar em cena principalmente na ultima década. As eco-vilas criam um ambiente social positivo com o uso de tecnologias de baixo impacto ambiental, a produção de alimentos sem agrotóxicos, o tratamento do esgoto e do lixo de maneira e a criação e proteção de reservas naturais.