sábado, 20 de junho de 2009

Uruguai Natural






















Estive por duas vezes no Uruguai, ambas com meu irmão. A primeira foi em 1996 _inclusive, foi também o primeiro país estrangeiro que visitei _, e a segunda, em 2006. Gostei bastante de lá, e Cabo Polonio foi o destino preferido dentre os lugares que visitei. A matéria abaixo foi publicada no caderno Turismo , da Folha de S.Paulo, em 1º de junho de 2006.

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De acesso difícil, cercada por areia, península a 260 km da capital vive sem água corrente e eletricidade

Dunas protegem charme rústico de Cabo Polonio

MARIANA BERGEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM CABO POLONIO




















Ainda que não seja uma ilha, Cabo Polonio vive completamente isolada. Essa península, localizada a 260 km de Montevidéu, no distrito de Rocha, é cercada por dunas que alcançam até 30 m de altura. A natureza foi generosa ao dificultar o acesso a esse vilarejo de maneira tão charmosa. Descoberto por turistas há menos de 30 anos, Cabo Polonio ainda mantém sua aura primitiva: não há luz elétrica nem água corrente.
Mas o mais importante não é sentir o que falta, e sim o que sobra: noites estreladas iluminadas pela lua e pelo farol, paisagens dominadas pelo mar cheio de lobos e leões-marinhos, baleias e aves de todos os tamanhos e um tapete de areia que se estende pelas praias a perder de vista.
Em frente ao povoado, encontra-se um grupo de três ilhas, as islas de Torres, que constituem um dos mais importantes assentamentos de lobos-marinhos da América do Sul, além de abrigarem inúmeras gaivotas. Essas ilhas também são o lugar de reprodução dos leões-marinhos. Das rochas de Cabo Polonio é possível observá-los fazendo todo tipo de acrobacia na água, e, aos pés do farol, dezenas deles se esparramam sob o sol. À noite, os grunhidos dos animais são o único ruído que corta o silêncio desse pequeno refúgio.

Travessia
Chegar a Cabo Polonio requer uma pitada de espírito de aventura: distante 8 km da ruta 10- a única estrada que leva à região-, só é possível transpor o caminho de areia que cerca a entrada da península em automóveis 4x4, a cavalo ou até mesmo caminhando.
É proibido entrar com veículo próprio, por isso é preciso recorrer a camionetes especialmente adaptadas com rodas gigantes de uma das seis agências autorizadas a transitar no local. Há saídas de uma em uma hora, e o preço é fixo (120 pesos, cerca de R$ 11,50).
Para quem acaba de chegar, Cabo Polonio se mostra um pouco desordenado: não há ruas demarcadas ou qualquer característica que remeta a um centro urbano. As casas, que não somam mais de 150, têm poços de água, hortas e criação de galinhas e ovelhas. A maioria é de madeira ou pintada de branco. Todas estão espalhadas, sem ordem.
A população local é de apenas 70 pessoas, mas boa parte das casas é de veraneio e, por isso, ficam vazias durante meses. Sorte de quem as ergueu enquanto era permitido. Desde 1992, para proteger a riqueza natural da península, o governo proíbe qualquer tipo de construção na península.
Toda essa atmosfera faz de Cabo Polonio um segredo. Não chega a ser considerado um lugar turístico para muitos uruguaios e não aparece na maioria dos guias de viagem. É justamente esse seu encanto: ser um destino especial, aonde se chega porque alguém contou que esteve lá.


AGÊNCIAS - La Estrella del Cabo: 00/xx/598/99/87-0868; El Paraiso: 00/xx/598/99/63-5441
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Nome da península veio de naufrágios de embarcações

















Zona de costas rochosas e perigosas para a navegação, Cabo Polonio reúne uma quantidade considerável de naufrágios. Duas dessas tragédias disputam a origem do nome do lugar.
A primeira versão é a de que a denominação teria surgido em 1735, com um naufrágio da embarcação Polonio, proveniente de Cádiz, Espanha. A segunda teoria defende que um acidente com um navio contrabandista comandado por Joseph Polloni, poucos anos depois, teria sido o responsável pelo batismo.
Construído em 1880 pelos ingleses, o farol com 25 m de altura e 124 degraus tinha como objetivo advertir os marinheiros sobre o perigo da península e diminuir o alto número de desastres marítimos que ocorriam por lá. Em 1976, o farol se tornou monumento nacional.
Seguindo pela costa, as pedras cedem espaço a quilômetros de praias desertas: de um lado do farol está a praia de Calavera e, do outro lado, a praia Sur. A areia é dura, e o vento ameniza o calor, que durante o dia é escaldante, próprio do clima subtropical. No verão, a temperatura passa de 30C e, durante o inverno, pode chegar a 2C. As noites são sempre frias, mesmo nos meses mais quentes -em virtude dos fortes ventos vindos do Atlântico.
O pôr-do-sol é longo e tinge o céu dos tons mais variados. O espetáculo vem sempre acompanhado da coreografia dos grupos de gaivotas que sobrevoam a região.
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Comandado por um cego, bar em formato de labirinto merece visita

À noite, comércios e casas ganham um visual romântico, com velas penduradas nos tetos e espalhadas pelo chão. São comuns as reuniões em pequenos bares à luz de velas.
Entre eles, o mais curioso é o bar de Josuelo, um nativo de Cabo Polonio. O teto e as paredes são cobertos com os mais variados tipos de planta, o chão é de areia, e as mesas são dispostas em corredores que formam um labirinto. Cego há alguns anos, Josuelo conhece cada milímetro de seu inusitado estabelecimento.
As opções de hospedagem não são variadas. As melhores e com localização privilegiada são a pousada Mariemar e a hostería La Perla. Ambas ficam na praia Sur, e os preços variam de U$ 35 a U$ 50, com café da manhã. Contam com geradores, que oferecem luz por um par de horas.
Também é muito comum os viajantes alugarem casas de veraneio ou de moradores locais a preços negociáveis.

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