domingo, 29 de março de 2009

Não é fácil mudar de carreira. Nos últimos 10 anos mergulhei em reportagens sobre assuntos diversos.

Escrevi sobre uma jovem que perdeu o bebê de seis meses porque as ratazanas devoraram seu rosto enquanto ela procurava trabalho para alimentá-lo e ele urrava de fome na cama daquele barraco desprotegido da porcaria de uma vida sem saneamento básico.

Contei a história de um nordestino que veio para São Paulo buscar trabalho e acabou nas ruas, com a saúde comprometida, sem dinheiro e com vergonha de voltar para casa como um fracassado.

Entrevistei políticos que roubam o dinheiro da administração pública e manipulam a mídia, impedindo misteriosamente a publicação de matérias que escancaram a falcatrua do poder neste país.

Escarafunchei o mercado de trabalho das prostitutas e conheci melhor essas mulheres que realizam os sonhos mais secretos de quem busca realizar seus desejos mais recriminados.

Revirei o universo encantado das crianças nos picadeiros dos circos e nos quilombos do Vale do Ribeira.

Vivi momentos ímpares na casa do Dalai Lama, no bate-papo com Gilberto Gil.

Conversei com um par de transeuntes da Praça da Sé até descobrir quem era o responsável pela comercialização de diplomas falsificados que tinha vendido um punhado de documentos para os funcionários concursados da Febém.

Reproduzi as maravilhas das praias, das montanhas e do céu azul dos tantos cantos do mundo.

Se perdi noites de sono, ganhei textos imortais. Deixo agora de lado a reportagem como minha principal atividade para investir em um novo caminho, que me permita uma vida mais conectada com a possibilidade de melhorar o mundo por meio da música, da arte, do social, da liberdade, da igualdade, da fraternidade, do amor, da democratização da cultura, da união por um propósito maior. Inicio, com paixão, minha incursão neste complexo universo da produção cultural.

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